terça-feira, 26 de agosto de 2008

Pantanal - Homem Pantaneiro

Campo Grande - MS

O Pantaneiro:

É de Antônio de Pádua Bertelli este belo perfil do pantaneiro: "No Pantanal fundem-se a água, a terra, o gado, a fauna e a flora. Ali o homem branco é o intruso. A largueza dos horizontes, a beleza das noites, a fartura, a imensidão da água, transformaram o pantaneiro em um contemplativo. São poucas e felizes, as pessoas que aprendem com eles a viver naquele mundo hostil e selvagem. A região, pelo seu dinamismo e pelas suas características, não moldou um tipo característico como o gaúcho ou o sertanejo. Isto não lhe diminui a grandeza, mas obriga o observador a procurar as suas origens. Na extensa planície do Pantanal do Mato Grosso, o homem não teve como fugir à influência de seus dois elementos principais: a água e a terra. Tornou-se hábil, engenhoso para muitas coisas e desajeitado em outras. Acanhado, o pantaneiro adquire uma personalidade exclusiva. A instabilidade do meio não permitiu a fixação do temperamento. As mudanças de orientação dos ciclos de desenvolvimento, os conflitos políticos e militares, nao agregaram fatores de tradição. Enfim, o pantaneiro é vaqueiro, caçador, pescador, canoeiro. É servil sem rastejar, mas, não podendo se impor ao meio, prefere ser comandado a comandar. Como grupo étnico, aproxima-se mais do caboclo paulista que do mineiro. Tem nas veias o sangue do bandeirante português, do sertanista paulista, e do brasilíndio. E hábil tanto na terra como na água, ágil, não é dado aos rompantes das façanhas gaúchas. Seus horizontes são diferentes, no Pantanal não há façanhas; o determinante é a façanha de sobreviver, ele próprio e seu gado".

O Homem Pantaneiro, recebeu dos primitivos habitantes, indígenas Guaranis, Paiaguás, Guatós a agilidade física e o respeito à natureza, a qual encontra-se praticamente inalterada com mais de 200 anos de ocupação e exploração econômica. A colonização da região remonta ao século XVIII. Através dos rios Tietê, Paraná e Paraguai, chegaram os primeiros bandeirantes provenientes de São Paulo à Chapada Cuiabana onde encontraram ouro. Após a Guerra do Paraguai e com o declínio do ouro, o povoamento se dá no sentido Norte-Sul, surgindo no Pantanal grandes fazendas de pecuária extensiva que, associadas aos fatores ambientais, consolidaram uma estrutura fundiária de grandes propriedades . No início deste século, o acesso aos grandes centros urbanos do País fazia-se por Assunção, Buenos Aires e Montevidéo, resultando daí a absorção de inúmeras manifestações culturais e folclóricas - música, vestimenta, linguagem e alimentação. A chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil , em 1914, incorporou novos hábitos e costumes. As distâncias e o difícil acesso às fazendas fizeram o homem pantaneiro acostumar-se ao isolamento e à solidão, porém manifesta o sentimento de cooperação quando trabalha seu gado (manejo tradicional) ou nas festividades típicas entre as fazendas. Vivendo a realidade de uma região inóspita, enchentes, ataque de animais silvestres, problemas de transporte e, sem política diferenciada para a região, o homem pantaneiro pecuarista, vaqueiro ou pescador, mantém amor, respeito e apego à sua terra.

Na região, um tipo humano muito curioso é o antigo caçador de onças, conhecido pelo nome de "zagaieiro", que mata o valente felino com uma arma primitiva, a zagaia, tipo de lança de ferro, fixada a comprido cabo de madeira de lei. É pessoa respeitada por todos, sejam autoridades locais, sejam fazendeiros e peões, pela coragem que possui. A caça com zagaia é sempre realizada com auxílio de cães de caça. Quando ferido ou acuado, o jaguar lança-se contra o caçador que o espera com a zagaia escorada no solo.




Carlos Ravazzani

Email: info@megavision.com.br



O pantaneiro é antes de tudo um forte. Vivendo na imensa área do Pantanal, repleta de adversidades, ele é integrado a tudo que o rodeia. Conhece bem os perigos que enfrenta, as ações da natureza e sabe, antes de tudo, que a seca e as enchentes são as responsáveis pela vida na região.

A distância e o difícil acesso às demais regiões fizeram do pantaneiro um povo acostumado à solidão e ao isolamento. Sentimento, no entanto, deixado de lado no momento de manejar o gado ou da participação nas tradicionais festas nas fazendas do Pantanal.

O meio de transporte - também dado às dificuldades de acesso da região - é o cavalo pantaneiro, que resiste ao trabalho dentro d’àgua e as embarcações de tamanhos e tipos diferentes.

Por viver distante dos recursos das cidades, o pantaneiro teve de aprender a retirar do ambiente em que vive as substâncias para utilização medicinal. Esta capacidade foi herdada dos índios - que habitaram por centenas de anos a região - e também dos povos vizinhos: os paraguaios e os bolivianos.

Sua alimentação, do mesmo modo, é baseada na farinha, carne, feijão, arroz e mandioca e em outros frutos silvestres, raízes e plantas leguminosas que abundam na região. Os peixes também integram a culinária deste povo e vêm em pratos que incluem os ensopados, fritos ou assados.

Isso porém, não significa que a região não disponha de uma culinária saborosa, embora simples. Acompanhado de arroz tropeiro, mandioca frita, e feijão grosso, além de salada, os peixes do Pantanal ganham sabor maravilhoso.

Na região há ainda a paçoca, uma farofa de carne-seca frita e moída no pilão com farinha. O rurrundu, um doce típico de mamão verde e rapadura complementa a culinária.

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